Projeto “Retrato: Um olhar além do tempo”

Dando continuidade ao Projeto “Retrato: Um olhar além do tempo” apresentamos, agora, o utente João Lobo.

João Lobo é natural de Cuba, terra do seu coração, aquela que o viu nascer e crescer. João nasceu em 1951, no seio de uma família humilde e de fracos recursos económicos. Retrata uma família pobre, mas unida, onde o pai teve o papel importante de modelo masculino para o seu futuro, mas é a mãe que recorda com mais ternura e como sendo muito sua amiga. Depois de concluir a quarta classe e direcionado pelo forte desejo e necessidade de trabalhar para ajudar economicamente os pais, empregou-se numa carpintaria. No entanto, foi como serralheiro que trabalhou boa parte da vida adulta, ganhando “25 tostões por dia.” Nos tempos livres, movido pela vontade de ajudar o próximo, foi bombeiro voluntário. Aos 20 anos assentou praça em Lagos, onde fez a recruta e jurou bandeira. Posteriormente, esteve no Porto, Chaves e Viana do Castelo. Até ser mobilizado e destacado para cumprir serviço militar obrigatório na Guiné. João faz descrições minuciosas das suas missões, com detalhes e dados precisos. Recorda os aerogramas que mandava para Portugal, uma espécie de ponte de proximidade com a realidade que havia deixado para trás. João contava os dias para retornar ao seu país e rever a família e a “primeira e única namorada”, Odete. A mesma mulher que o acompanha até hoje, partilhando desde a juventude a árdua caminhada, unindo vontades e amor para ultrapassar os obstáculos e alcançar um futuro melhor. São as caras-metades um do outro há mais de meio século e desta união nasceram dois filhos.

O tempo passou e as vivências não foram apagadas e cada vez se tornam mais visíveis, como um filme antigo reproduzindo imagens e emoções que guarda na sua memória e no coração. No conforto da sua sala, João recorda a infância marcada pelo trabalho árduo e pelas dificuldades financeiras, o namoro de adolescência, o casamento com a sua “eterna namorada”, o nascimento dos filhos e do neto. Conta, ainda, com brilho no olhar, como descobriu a sua paixão pela música, e em particular pelo saxofone, na Sociedade Filarmónica Cubense 1.º Dezembro.

Viu-se, ouviu-se e sentiu-se histórias de uma vida. ❤️